segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Le Marionette



Le Marionette

Pintei meu auto retrato em tintas de cores flamejantes
Sobre montanhas de glórias, senti-me um semideus prateado
Parecia-me, em minha juventude e força, que eu tudo podia
E a ninguém devia explicação alguma...
Cônscio de minhas vontades, absurdamente livre eu me sentia.
E olhava, zombeteiro, as pessoas humildes que me pareciam
Fantoches e marionetes, de cabeça baixa à manipulação da vida.

Autônomo, liberto, arrogantemente achei
Que tudo que eu desejasse, o destino me daria
Bastava querer, e, querendo, conseguir
pois tudo viria às minhas mãos um dia.
Cheguei, certa vez, no entanto, a uma encruzilhada
Onde ventos cortantes me vergaram a espinha
Onde, por mais que me debatesse, mais densamente enveredava
Por um caminho turvo que de minha vontade jamais escolheria.
Abateram-se sobre mim várias desgraças
Vindas não sei de onde, nem porque, nem como

E eu, o semideus, me vi sendo levado em turbilhão
Meu destino, ligado a todos os outros destinos
Minha vida, entrelaçada a todas no universo
Minha vontade, refreada por um fatal grilhão...
Outra vez meu retrato eu fiz, e com estupor
Pude ver agora fios antes invisíveis
Saindo de mim em todas as direções e atados
À Mão de Alguém, a quem prefiro eu chamar...Amor.

Amor bendito, de formas infinitas
Amor sublime, de objetivos ininteligíveis
Amor secular, de eternas chamas renascido
Amor de sofrer, solidão e desamparo.
Meus sentimentos, até esses me foram programados
Minhas recordações, todas guardadas e esquecidas
Não lembro de mim, mas sei quem sou

Sou o vento que me traz a nostalgia
Sou a lágrima que me faz lembrar lugares
Sou a saudade incontida, de sonhos doloridos
Sou a alegria da criança, ela que ainda lembra
Lembra rostos, lembra flores
Lembra de beijos, lembra de amores

Amores do passado, amores que vão e voltam
Amores que me chegam, num sentimento só...Amor.
Sou eu o Deus, sou eu o marionete,
Sou eu a essência de um ser infinito
Ser que ata, mas não prende,
Cativa, mas não detém...
Amor.

(Bíndi e Ghost)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Pai...to com medo.


Filha, eu daria a minha vida por um sorriso teu...
Pra mim ainda eras um bebê, pequenina, dormindo em meus braços
Hoje percebí que vc cresceu, se tornou uma linda moça

Perdoe-me filha, tive que partir ao mundo, buscar teu alimento
Não tive tempo de perceber o quanto precisaste de mim
Busquei o consolo de minha própria dor, não vendo que tb estavas só

Juntando meus pedaços, esqueci que és parte de mim tb
Deixei-te aos cuidados de pessoas queridas,
Deixei-te pela dor de não ter que olhar teu rosto...e ver a imagem daquela que tanto amei

Hoje volto, presenciando teu sofrimento
E tb estou com medo...medo de perder vc
Mas algo em mim me dá a esperança de um novo recomeço.

Não tenha medo filha...
Pois ainda não falei-te de meu amor por você
Ainda não te ensinei o que é o verdadeiro Amor.

Fica comigo querida, não se vá
Papai precisa de vc
Não acredito que Deus me deixaria sózinho, outra vez.

Me dê uma chance...não se vá
As luzes que me protegeram...tb te salvarão, eu sei
Sei que somos maiores que o corpo, mas vc ainda não aprendeu, deixe-me ter tempo de te ensinar.

Não estou pronto pra te perder assim, agora
Deixe-me pegá-la no colo, te fazer dormir, como vc dormia em meus braços quando bebê
És meu único tesouro que Deus deixou sôbre a Terra...não se vá.

Foram tantas noites e dias distante de todos, de tudo
Envolvido num vazio de mim mesmo
Abre os olhos filha...papai está aqui.

Vamos sair filha, vamos andar de mãos dadas pela praça, vamos ouvir os pássaros
Deixe-me ver o teu sorriso andando de balanço, deixe-me comprar uma boneca pra vc
Ainda não estou pronto filha...abra os olhos.

Por quantos amores passastes querida?
Em quantos afagos procuraste a minha mão?
Quantas vezes me esperaste no portão?

Quando finalmente meu coração estava pronto
Um apenas, de tantos recados que me enviavas..."pai...to com medo"
Não tenha medo filha...papai está aqui.
 


"Ó Pai de todos...dá-me a força do Amor, a Luz de Alma, a Fé do Coração,
não permita Senhor, que a vida termine aqui, não me tire a esperança.
Dou-te minha vida pela vida dela, assim como tive a chance e tempo, não negues isso à ela tb...imploro-te com a humildade dum pai imperfeito, mas que ama seu rebento, oportunize-me a tarefa de ser pai presente, devolva minha filha aos braços meus...
Mas seja feita a tua vontade Pai, essas almas tão amadas que me emprestaste, seja hoje ou amanhã, sei que sempre estaremos juntos..."


Durma agora filha, zelarei teu sono aos pés de teu leito...
Amanhã poderemos recomeçar...
Deus nos dará uma nova chance...
 

Ghost 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Myeisha


Myeisha

Olhando aquele casal...carinhosos um com o outro como sabiás na primavera
alguns imaginam que caminham em pétalas de flores
que nasceram com a sina de um amor eterno e bom, 
e que tudo lhes foi dado, do céu caído, perfeito e acabado.
Mas como todos os seres deste mundo,
seu caminho é também crivado de pedras
seu céu turvado de invejas, mesquinhas opiniões, ópios do mundo...

Quantas vezes cometeram erros?
Quantas vezes perdoaram?
Quantas noites conversaram para no fim dormirem abraçados?
Quanto de doação e carinho, perseverança e compreensão
é preciso para pavimentar a estrada
onde passará, majestoso e sublime, o cortejo do amor?

O amor é perfeito, mas a criatura é vulnerável...
Amar é o destino, mas a viagem é laboriosa.
Olhe aquele casal...quanto de amizade para manter a paixão?
Quanto de paixão para incendiar a amizade?
Quantas vezes irmãos, depois do amor ardente?
Após extenuar no leito, quantas vezes o ombro para chorar?
Olhe aquele casal...todos os dias, eternamente, reaprendendo o segredo de amar.

Para meu amado...
Ghost, obrigada por afagar minha alma com teu amor.

Bíndi

**Myeisha - na língua africana, significa "a que é muito amada".


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Etéreos Véus


Já tenho apenas na lembrança toda a dor que senti no corpo e na alma
Foram horas de muito sofrimento
Por fim, meu desenlace ocorreu quase de forma inconsciente...pude apenas perceber uma sutil mudança e muita paz.
Fui ajudado por amigos deste plano, foi muito difícil no início
Mas aos poucos, eles me fizeram entender que a vida continua
Apenas me transferi de estação

Mas algo em mim não passou: o amor que tenho por você.
A saudade que ficou...
Ainda tenho momentos de muita saudade, chamam-me a atenção...então entendo que eles estão certos, que nada irá apagar nosso desejo, nosso sentimento...então me ponho a trabalhar, estudar, ajudando quem precisa, sorrindo e me fazendo feliz ao sorriso do próximo.
Sei que você também sente o mesmo, pois posso ouvir seus sentimentos e pensamentos.
Saiba, minha querida, nada mudou em mim, continuo o mesmo cara apaixonado por uma mulher linda de alma e de coração, o mesmo cara que lhe chamava de Deusa do meu coração; sim, os sentimentos vêm conosco.

Anseio muitas vezes por tocá-la, mas sei que o tempo é o remédio que cura todas as saudades e lágrimas. Em meu silêncio tenho crescido muito, tenho visto o quanto nos amamos, sem egoísmo, nunca tivemos a posse um do outro, sempre nos admiramos e nos atraímos pelo que somos um para o outro...num inexplicável sentimento que nos une.

Assim entendo deva ser o amor saudável, pois ninguém pode esperar que o outro preencha os seus vazios e necessidades, isso seria tortura com outro ser. Acho que é por isso tudo que somos tão ligados em alma, pois sempre buscamos a amizade um com o outro, nossa irmandade sempre foi no olhar, na presença, nem precisávamos nos tocar muitas vezes...e quase desfalecíamos num olhar de um pro outro.

Minha amada, amiga, namorada, amor...estou bem, muito bem...
O tempo passa, tenho cuidado de nosso futuro por aqui, plantando no jardim da saudade, regando as flores  de um amanhecer de luz.

Agora preciso ir, mas fico sempre aqui com o coração, cuidando de você, de suas alegrias e tristezas, lhe permitindo viver sem mim, me fazendo ausente, silencioso...sabendo que nos amamos como sempre, desde épocas remotas de nossas consciências.

Sempre amigos,  admirando um ao outro, completando-nos sem exigir nem prender. Penso que só por isso nosso amor se tornou tão sublime e raro...rumando para a eternidade, mesmo que um dia minhas lembranças se apaguem de sua memória, estarei em seu coração, esperando novamente lhe encontrar.

Com saudade...um beijo de seu eterno amor.

Ghost


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Louco por ti


Sob o calor de teu corpo em chamas de amor, navego
no universo de nosso prazer, mulher querida...
Perdido em vontades, desejos inconfessáveis, delírios sem fim.
Sendo devorado por ti, sedenta e entregue aos meus mandos e fetiches,
Entre as quatro paredes do silêncio que nos cerca, deslizando em nosso suor, sentindo teu sabor.

Nas viagens do prazer pelo corpo que é teu, 

minhas mãos se perdem em regiões que só a intimidade pode revelar, transformando desejos em gemidos, vontades...num amor sem limites.

Em tua boca começa meu prazer, em tua língua meu êxtase, no clímax da união de dois corpos, teu e meu...num só prazer que invade a alma por cada milímetro de nossos corpos.
Nessa fuga da realidade, desmaiados no calor que nos faz deslizar um pelo outro, beijo tua boca ainda sedenta, que me suga e me engole entre arranhões e mordidas, querendo fazer de mim e você...um corpo só.



                                 Ghost

sábado, 27 de setembro de 2014

Toys



"Um dia, já fomos imperfeitos. Naquele tempo, um fotógrafo fazia lindas fotos de pessoas contando apenas com alguma maquiagem e boa iluminação, unidas à sua arte e habilidade. Mas as fotos não ficavam imaculadas: havia pequenas manchas na pele, ruguinhas, um corpo mais ou menos cheinho, cabelos ​de várias ondulações, culotes, narizes de todos os tamanhos e formas...sim, éramos todos diferentes uns dos outros. 

Então, um dia, aqueles que odiavam a nossa espécie contrataram um especialista. Com ferramentas e filtros de seus softwares maravilhosos, seios cresciam, cinturas afinavam, músculos masculinizavam-se, coxas engrossavam, sardas sumiam, os cabelos não mais se rebelavam...e homens e mulheres se transformavam na imagem desejada da Perfeita Criatura, também denominada SEPSIS: Seres Eternamente Plásticos​ Submetidos à Inteligência Sintética. Mas só podíamos viver ​esta existência de perfeição ​no mundo virtual​; fora do computador, continuávamos "feios" e era impossível nos relacionar uns com os outros, já que não nos reconhecíamos, tão distintos éramos de nossos impecáveis avatares. 

Com o tempo, nós mesmos aprendemos a nos ver com o olhar crítico de nossos criadores. Pouco a pouco, notávamos imperfeições onde antes só víamos expressões de sentimentos e emoções, defeitos onde só percebíamos silhuetas humanas. Medíamos as figuras com nosso olhar, e antes de qualquer coisa, era a aparência de alguém que nos preenchia todo o pensamento. O que aquela criatura era, seu coração, personalidade e jeito, pouco a pouco foi deixando de vir ao caso; somente a perfeição formal era aceitável, o resto era material de descarte. Então, resolveram alterar também nossos corpos reais, e após poucas centenas de cirurgias, já podíamos andar pelas ruas sem nos envergonharmos de nossos prévios feitios boçais e mal projetados. 

Mas restava um detalhe, ainda não retificado pelas ferramentas dos aplicativos: tínhamos um espírito, um restolho de alma dentro de nós que, em alguns indivíduos, ​continuava a manifestar-se em surtos esporádicos de revolta contra o sistema. Mas espertamente, a maioria​ de nós​ foi devidamente doutrinada a pisotear a dignidade destes recalcitrantes, tachando-os de feiosos, velhos, ​bregas, ​pobres, ou inúteis. Engraçado que palavras como "ignorante" ou "burro" caíram totalmente em desuso como insultos, já que os adjetivos aplicavam-se à maioria de nós, então. Desta forma, ser burro ou ignorante era a regra, naturalmente aceita. Afinal de contas, a inteligência ou o caráter eram coisas abstratas, e mais do que tudo, invisíveis: e vivíamos no mundo da aparência. 

Hoje, posso ser considerada uma rebelde neste mundo. Desisti do botox há quase um ano, e ainda conservo muitas partes de meu corpo sem silicone. Mas precisei quebrar meu espelho para não cair numa crise de abstinência de cirurgias...está sendo muito difícil, difícil demais, me tornar humana de novo."

Bíndi 



http://extra.globo.com/famosos/preta-gil-reclama-de-foto-excessivamente-retocada-em-revista-13895844.html



 

 Imagem: http://funny-pictures.picphotos.net/

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Senhores passageiros...boa viagem!!!



Os sinais do céu nos trazem a esperança de um infinito ainda não descoberto pelo homem.
Eles nos fazem cogitar de muitas possibilidades, além de nossa vida tão limitada.
Naves, seres, luzes, aparições...

Hoje não duvidamos mais da existência de várias moradas na casa do Pai.
São bilhões de galáxias, 100 milhões já confirmadas pela ciência, fotograficamente.
Galáxias  com trilhões de estrelas, sendo "impossível" para a raça humana com a atual tecnologia, alcançá-las.

Dependemos de máquinas, enquanto nossa fé é pequena, enquanto nossa visão é de um rato dentro da toca.
Não queremos, nem podemos ver o  todo ao redor, pois isso fere ao nosso orgulho formado  em milhões de anos como sendo  nós o centro do universo.
Mas os tempos nos mostram o inevitável, os avanços nos levam cada vez mais longe da visão limitada de nossa consciência física.

Negar é quase impossível, acreditar que não existe algo lá fora já é absurdo, mas ainda reagimos como selvagens diante da luz, pegamos nossos tacapes e tentamos bater no imaterial, imitando os hipócritas que buscavam Deus em templos, mas  jamais no coração.

Aos poucos nos é revelado parte infinitesimal de um universo conhecido em fagulhas e tão misterioso, ainda.
Possibilidades infinitas de vidas e dimensões, nos tirando das ilusões da visão limitada da carne, egos caindo por terra, orgulhos se desfazendo, sacerdotes em falência, verdades manipuladas caindo em descrença.  Estamos sendo enganados por milênios, mentes quadradas que pensam quadrado, não admitem a insignificância de nosso pequeno horizonte, tal qual a chama das paixões que sucumbem diante do oceano de amor, nos vemos  como formigas no caminho de elefantes.

Nos armamos contra nossos irmãos,  planejamos conquistas espaciais, como se de tudo fôssemos os proprietários, esquecendo-nos de que a inteligência suprema é feita de amor e perfeição, nos dando o oxigênio e o alimento, não oprimindo o ser selvagem que trucida seu próprio irmão em meio dum jardim florido, mas esperançando a luta da alma eterna no aprendizado terrestre.

Choramos ao ver entes partirem do corpo físico, ainda não percebemos que eles continuam a existir, conquanto de outra forma nos amando tb, no silêncio de um mundo que renegamos com todas as armas de nossa língua bélica e venenosa.

Mas surge a luz do amor, dita nas palavras de um ser que veio nos mostrar o caminho..."amai-vos uns aos outros", então alguns poucos percebem que o amor é a escada que eleva, fazendo-se então uma pequena falange que planta no deserto de descrença e da fé cega, talhada por sacerdotes e aproveitadores da ingenuidade da criatura que dorme em consciência.

Assim o motor da nave que nos eleva ao infinito está ligado, esperando passageiros para seguir a viagem de retorno ao lar, sem alarde, silencioso como o amanhecer dum dia  primaveril, nos dizendo no íntimo da criatura...amar, amar e amar.

Compre sua passagem para embarcar nessa nau...é da fonte do fraterno que a nave surgirá.

Desperte o amor em vc...acenda a sua luz.

Senhores passageiros...boa viagem!!!

Ghost



quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O Fado do Amor Eterno


                                                                                                


Assim voou a espuma, sobre a praia, a marejar
De lágrimas a branca areia, onde um dia
Um triste dia, dois seres sonharam amar

Da barca distante acena o lenço, lenço branco a oscilar
Inveja das andorinhas...todas em bando a voar
Enquanto parto sozinha, nesse barco, triste barco, pelo mar.

Pedir-te-ia uma carta, para meu consolo, ao chegar
Naquele país de silêncios, onde tua voz não irá
Mas entalho na lembrança tua imagem, ao luar.

Vou-me, cantando este fado, já de saudade doída
Pois deixar-te para trás e saber-te só nesta vida
Mata-me um pouco mais que a morte que me desgarrou
Rezarei a Deus que de nós tenha clemência
E nos recompense a ausência no mundo pra onde vou.

Nessa praia de brancas areias, temos o céu por penhor
De nos encontrarmos um dia, feliz dia, para aplacar a dor
Pois o fado que hoje ouves, melancólicas cordas soando
Acompanhará meu retorno, barca no mar ondulando
Para meu eterno querido, meu mar, meu fado, meu amor.

Bíndi

(Inspirado no amor de Ghost, a quem meu coração escolheu)
 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Depois de Um Tango!


(Texto inspirado em meu amor: Bindi)

Fico a lhe olhar fixamente, mas seu olhar se perde num disfarce sutil
Seguro suas mãos suadas, entre seus dedos coloco meu desejo
Nem os aplausos me tiram a concentração em sua sensualidade
Esse perfume de mulher que usas, cada dia mais me faz flutuar

Quase beijo seus lábios, numa coreografia inventada por um impulso
Ao que correspondes com um leve sorriso e um gentil baixar de olhos
Tremo ao lhe abraçar e sentir a suavidade macia de seu corpo quente
Deslizo minhas mãos  por  sua silhueta de violão

Então percebo que a música já terminou...
Rubro, a face vermelha de timidez,
Calo-me humilde ao seu comportamento de dama intocável
Acompanho-te silencioso entre os corredores que nos levam aos bastidores

Banho-me sem vontade de tirar seu cheiro de meu corpo
Visto-me e saio pelo corredor
Instintivamente voltando ao palco de nossa dança
Tão distante de mim, deparo-me com você à minha frente, lindamente vestida

Quase desfaleço ao sorriso que me ofertas, como se me procurando estivesses
Tão linda, olhar bandido, num vestido marcando a silhueta de uma deusa
Assalta-me então a paixão que não sei mais disfarçar
Ofereço-te o braço para seu apoio...me devolves um tango a dois..."só para nós dois"!

Sob olhares espantados,
Nada mais recordo
Lembro-me de quem fui
Mas agora estou perdido
No compasso de um antigo Tango, tão fulminante...como meu amor por você!

Ghost


domingo, 27 de julho de 2014

O Velho Pescador

Encontrei este conto de Mary Bartles Bray, e achei que merecia ser compartilhado com pessoas capazes de entender a sua mensagem.
Um grande abraço!
Bíndi


                                                                                                           Imagem:Gianni Strino - The Mariner




O Velho Pescador


Nossa casa ficava do outro lado da rua da entrada da clínica do Johns Hopkins Hospital, em Baltimore. Morávamos no andar de baixo e alugávamos os quartos do andar superior para os pacientes da clínica. Numa noite de verão enquanto eu preparava o jantar, alguém bateu na porta... Eu abri e vi um homem verdadeiramente horrível me olhando. "Ora, ele é pouco mais alto que meu menino de oito anos de idade", pensei enquanto olhava para o corpo murcho e encurvado. Mas a coisa mais terrível era o rosto dele - torto de inchaço, vermelho e áspero. No entanto, sua voz era agradável, ao me dizer: "Boa noite. Vim para ver se você tem um quarto para apenas uma noite. Eu vim da costa leste para um tratamento esta manhã, e não há ônibus até amanhã de manhã... "
Ele me disse que estava à procura desde o meio-dia, mas sem sucesso: ninguém parecia ter um quarto. "Eu acho que é o meu rosto... Eu sei que parece terrível, mas meu médico diz que com mais alguns tratamentos ..." 

Por um momento eu hesitei, mas suas próximas palavras me tocaram: "Eu poderia dormir nesta cadeira de balanço na varanda, meu ônibus sai de manhã cedo..." 
Eu disse a ele que iria conseguir-lhe uma cama, e para descansar na varanda. Entrei e terminei o jantar; quando estava pronto, eu perguntei ao velho se ele iria se juntar a nós. "Não, obrigado. Eu tenho o bastante", disse erguendo um saco de papel marrom. 
Quando terminei os pratos, fui para a varanda para conversar com ele alguns minutos. Não demorou muito tempo para ver que este velho homem tinha um coração enorme dentro daquele pequeno corpo. Ele me disse que pescava para sustentar sua filha, seus cinco netos, e o marido dela, que estava irremediavelmente desabilitado por uma lesão nas costas.
Ele não disse estas coisas em tom queixoso; na verdade, cada frase era prefaciada com um agradecimento a Deus, como por uma bênção. Estava grato por nenhuma dor ter acompanhado sua doença, que aparentemente era uma forma de câncer de pele. Ele agradeceu a Deus por dar-lhe forças para continuar. Na hora de dormir, nós colocamos uma cama no quarto das crianças para ele, e quando me levantei pela manhã, a roupa de cama estava cuidadosamente dobrada e o pequeno homem estava na varanda. Ele recusou o desjejum, mas antes de partir para seu ônibus, hesitante, como se estivesse pedindo um grande favor, ele disse: "Será que eu poderia por favor voltar e ficar aqui na próxima vez que eu vier para o tratamento? Eu não vou importuná-los, posso dormir bem em uma cadeira." Ele fez uma pausa e depois acrescentou: "Seus filhos me fizeram sentir em casa. Os adultos sentem-se incomodados pelo meu rosto, mas as crianças não parecem se importar." Eu disse que ele era bem-vindo para vir novamente. E em sua próxima viagem, ele chegou um pouco depois das sete da manhã. Como um presente, ele trouxe um peixe enorme e um pacote com as maiores ostras que eu já tinha visto. Ele disse que as tinha pegado naquela manhã antes de sair, para que estivessem boas e frescas. Eu sabia que o seu ônibus saía às 4:00 horas da madrugada, e me perguntei a hora que tinha de levantar-se, a fim de fazer isso por nós. 

Nos anos que vieram, ao ficar durante a noite com a gente, nunca houve uma vez em que ele não nos trouxesse peixe ou ostras, ou legumes de sua horta. Outras vezes, recebemos pacotes pelo correio, sempre por entrega especial; peixes e ostras embalados em uma caixa de tenros espinafres ou couve frescos, cada folha cuidadosamente lavada. Sabendo que ele devia andar três quilômetros até o correio, e quão pouco dinheiro ele tinha, fazia os presentes duplamente preciosos. Quando recebi essas pequenas lembranças, muitas vezes eu pensei em um comentário que o nosso vizinho de porta havia feito depois que ele saiu de nossa casa naquela primeira manhã. "Será que você abrigou esse homem horroroso ontem à noite? Eu mandei-o embora! Você pode perder hóspedes, aceitando tais pessoas!" Talvez a gente perdeu hóspedes uma ou duas vezes. Mas oh! Se ao menos eles o tivessem conhecido, talvez suas doenças teriam sido mais fáceis de suportar. Eu sei que a nossa família sempre será grata por tê-lo conhecido; dele nós aprendemos o que era aceitar o mau momento sem queixa e o bom com gratidão a Deus. 

Recentemente eu estava visitando uma amiga, que tem uma estufa, e quando ela me mostrou suas flores, chegamos à mais bela de todas, um crisântemo dourado, repleto de pétalas. Mas para minha grande surpresa, ele estava crescendo em um velho e amassado balde enferrujado. Eu pensei comigo mesma: "Se fosse minha esta planta, eu colocá-la-ia no recipiente mais lindo que eu tivesse!" Minha amiga me fez mudar de idéia. "Eu estava com poucos vasos", explicou ela, "e sabia o quão bonita esta flor seria, então pensei que não faria mal começar neste velho balde. É só por um tempo, até que eu possa plantá-la definitivamente no jardim."

Ela deve ter se perguntado por que eu ria deliciada, mas eu estava apenas imaginando uma cena no céu: "Aqui está uma especialmente bonita" Deus poderia ter dito quando se encaminhou a ele a alma do velho e doce pescador. "Ele não vai se importar, se começar neste pequeno corpo." 


Tudo isto aconteceu há muito tempo - e agora, no jardim de Deus, quão alto deve esta linda alma ter se elevado.


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