domingo, 27 de julho de 2014

O Velho Pescador

Encontrei este conto de Mary Bartles Bray, e achei que merecia ser compartilhado com pessoas capazes de entender a sua mensagem.
Um grande abraço!
Bíndi


                                                                                                           Imagem:Gianni Strino - The Mariner




O Velho Pescador


Nossa casa ficava do outro lado da rua da entrada da clínica do Johns Hopkins Hospital, em Baltimore. Morávamos no andar de baixo e alugávamos os quartos do andar superior para os pacientes da clínica. Numa noite de verão enquanto eu preparava o jantar, alguém bateu na porta... Eu abri e vi um homem verdadeiramente horrível me olhando. "Ora, ele é pouco mais alto que meu menino de oito anos de idade", pensei enquanto olhava para o corpo murcho e encurvado. Mas a coisa mais terrível era o rosto dele - torto de inchaço, vermelho e áspero. No entanto, sua voz era agradável, ao me dizer: "Boa noite. Vim para ver se você tem um quarto para apenas uma noite. Eu vim da costa leste para um tratamento esta manhã, e não há ônibus até amanhã de manhã... "
Ele me disse que estava à procura desde o meio-dia, mas sem sucesso: ninguém parecia ter um quarto. "Eu acho que é o meu rosto... Eu sei que parece terrível, mas meu médico diz que com mais alguns tratamentos ..." 

Por um momento eu hesitei, mas suas próximas palavras me tocaram: "Eu poderia dormir nesta cadeira de balanço na varanda, meu ônibus sai de manhã cedo..." 
Eu disse a ele que iria conseguir-lhe uma cama, e para descansar na varanda. Entrei e terminei o jantar; quando estava pronto, eu perguntei ao velho se ele iria se juntar a nós. "Não, obrigado. Eu tenho o bastante", disse erguendo um saco de papel marrom. 
Quando terminei os pratos, fui para a varanda para conversar com ele alguns minutos. Não demorou muito tempo para ver que este velho homem tinha um coração enorme dentro daquele pequeno corpo. Ele me disse que pescava para sustentar sua filha, seus cinco netos, e o marido dela, que estava irremediavelmente desabilitado por uma lesão nas costas.
Ele não disse estas coisas em tom queixoso; na verdade, cada frase era prefaciada com um agradecimento a Deus, como por uma bênção. Estava grato por nenhuma dor ter acompanhado sua doença, que aparentemente era uma forma de câncer de pele. Ele agradeceu a Deus por dar-lhe forças para continuar. Na hora de dormir, nós colocamos uma cama no quarto das crianças para ele, e quando me levantei pela manhã, a roupa de cama estava cuidadosamente dobrada e o pequeno homem estava na varanda. Ele recusou o desjejum, mas antes de partir para seu ônibus, hesitante, como se estivesse pedindo um grande favor, ele disse: "Será que eu poderia por favor voltar e ficar aqui na próxima vez que eu vier para o tratamento? Eu não vou importuná-los, posso dormir bem em uma cadeira." Ele fez uma pausa e depois acrescentou: "Seus filhos me fizeram sentir em casa. Os adultos sentem-se incomodados pelo meu rosto, mas as crianças não parecem se importar." Eu disse que ele era bem-vindo para vir novamente. E em sua próxima viagem, ele chegou um pouco depois das sete da manhã. Como um presente, ele trouxe um peixe enorme e um pacote com as maiores ostras que eu já tinha visto. Ele disse que as tinha pegado naquela manhã antes de sair, para que estivessem boas e frescas. Eu sabia que o seu ônibus saía às 4:00 horas da madrugada, e me perguntei a hora que tinha de levantar-se, a fim de fazer isso por nós. 

Nos anos que vieram, ao ficar durante a noite com a gente, nunca houve uma vez em que ele não nos trouxesse peixe ou ostras, ou legumes de sua horta. Outras vezes, recebemos pacotes pelo correio, sempre por entrega especial; peixes e ostras embalados em uma caixa de tenros espinafres ou couve frescos, cada folha cuidadosamente lavada. Sabendo que ele devia andar três quilômetros até o correio, e quão pouco dinheiro ele tinha, fazia os presentes duplamente preciosos. Quando recebi essas pequenas lembranças, muitas vezes eu pensei em um comentário que o nosso vizinho de porta havia feito depois que ele saiu de nossa casa naquela primeira manhã. "Será que você abrigou esse homem horroroso ontem à noite? Eu mandei-o embora! Você pode perder hóspedes, aceitando tais pessoas!" Talvez a gente perdeu hóspedes uma ou duas vezes. Mas oh! Se ao menos eles o tivessem conhecido, talvez suas doenças teriam sido mais fáceis de suportar. Eu sei que a nossa família sempre será grata por tê-lo conhecido; dele nós aprendemos o que era aceitar o mau momento sem queixa e o bom com gratidão a Deus. 

Recentemente eu estava visitando uma amiga, que tem uma estufa, e quando ela me mostrou suas flores, chegamos à mais bela de todas, um crisântemo dourado, repleto de pétalas. Mas para minha grande surpresa, ele estava crescendo em um velho e amassado balde enferrujado. Eu pensei comigo mesma: "Se fosse minha esta planta, eu colocá-la-ia no recipiente mais lindo que eu tivesse!" Minha amiga me fez mudar de idéia. "Eu estava com poucos vasos", explicou ela, "e sabia o quão bonita esta flor seria, então pensei que não faria mal começar neste velho balde. É só por um tempo, até que eu possa plantá-la definitivamente no jardim."

Ela deve ter se perguntado por que eu ria deliciada, mas eu estava apenas imaginando uma cena no céu: "Aqui está uma especialmente bonita" Deus poderia ter dito quando se encaminhou a ele a alma do velho e doce pescador. "Ele não vai se importar, se começar neste pequeno corpo." 


Tudo isto aconteceu há muito tempo - e agora, no jardim de Deus, quão alto deve esta linda alma ter se elevado.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Biyi



E num súbito, desperto em consciência, e me vejo estranho numa dimensão de ilusões e egos: o indivíduo é tudo aqui, a luz é esquecida...


Vejo que está tudo aos pedaços, desorganizado aparentemente, vou andando, procurando o lar...que lar?!

Então sou perseguido, sofro preconceitos e ataques.
As balas surgem de todos os lados, não entendo, mas preciso me esconder, de mim mesmo restou só o silêncio, numa casa vazia e cercada  por formas da ilusão, que tentam me acorrentar.

Só busco sossego, quero voltar...como?! estou preso.

Me isolo, buscando silêncio,  é um erro...deveria agir como todos que dormem!

Quem são essas estranhas criaturas?! Vindos da mesma fonte...esqueceram, esqueceram...

Correr não funciona, esconder-se não resolve.
Então me volto para dentro de mim, então sei que sou milhões. Isolo egos e balas, me torno apenas consciência, blindada, mas um pássaro numa gaiola...batendo asas!!!

Ainda não estou pronto...preciso  aprender mais!!!

Voar é a meta...horizontes sem fim nos esperam...ao tempo do despertar!

Cansado...preciso dormir.

Ghost

*Biyi = nascido aqui, agora. (Yorubá)


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