quinta-feira, 21 de julho de 2016

Asgard




Pelo fio da espada e em nome de um deus
Fui defensor, agressor, soldado, guerreiro
Não havia amanhã, cada batalha seria um fim
Cada retorno um recomeço

A consciência coletiva anulava a individualidade
Mas em cada morte habitava a dor contida

Sempre em nome do reino, matava e morria
Sobrevivi ao tempo, após ser morto impiedosamente
No instante de meu desenlace, as cenas se misturavam
Não percebia o resgate benfeitor, apenas aceitava o destino cruel

A força de todos a quem atravessei a espada, residia num só homem
O amor já reinava em mim, entendia-o, mesmo percebendo a fúria em seus olhos
A impiedade que usei por dezenas de vezes me visitava
Tudo que me restava era a aceitação do resgate inconsciente

Hoje percebo o bem recebido pela punição do amor que deixei
As angústias contidas, ainda me fazem lutar, mas do guerreiro nasceu o mestre das artes
Da saudade me restou a busca pela sabedoria do entendimento
A fúria do selvagem me fez voltar inconsciente, despertando o amor em mim

Posso ter então a consciência que descia nas vitórias pela espada
Por milênios busquei a troca da fúria pela arte, controlando assim a alma sanguinária que me fazia matar em nome de um reino carnal

O desenlace me fez crescer, pois meu coração carregava um cansaço de tanto empunhar a espada para assassinar meu inimigo
Tantas vidas vivi, até os dias em que percebo que o bem daquela lança atravessando-me a carne, me trouxe luz, paz e descanso do martírio de matar

Há tanto a resgatar, do tanto que plantei...devo então refazer o jardim, replantando flores amassadas por meus próprios pés
Abençoo a espada que me tirou da inconsciência, abençoo a lança que me aflorou um sentimento que não conseguia entender...

Hoje sei que o amor maior às vezes nos mata uma ilusão, fazendo-nos renascer para uma nova luz
Pouco a pouco, o guerreiro dá a vez ao mestre, trocando o sangue pelo conhecimento, a fúria pelo despertar de minha alma para o amor que deixei um dia
Espere-me um pouco mais, pois manchei seu rosto com lágrimas e sangue
Busco ainda em mim o mistério que sempre nos uniu...

Ainda serei seu servo, pois em meu coração...és a sacerdotisa de minhas vidas, pois por ti sempre lutei pelos reinos, luto hoje para alcançar o seu coração
Aprendo a lhe servir pelo amor, jamais pelo sangue derramado outrora
Espere-me um pouco mais, soberana és em todos os meus destinos!

Ghost



segunda-feira, 4 de julho de 2016

Súplica dos Sonhos



Lapida-me em teus sonhos,
Névoa entre os braços teus
Tenho vontade de ti!
Quero ser mais que o devaneio
Mais que o sopro de um desejo...

Molda-me mulher de carne
Sopra em minhas narinas 
o bafejo da existência
Ergue-me sobre meus pés
Não mais ídolo de barro, 
ou musa de incertas marés

Pega-me pela cintura, em rodopios etéreos,
e então joga-me à terra: 
Quebra-me todos os ossos
Mas deixa-me sentir, mesmo que por uma vez,
A experiência de existir.
Cravarei meus dedos na areia, 
queimarei sob o sol de desertos
murcharei nas inundações
Pra sentir teu corpo em mim.

Depois deixa-me, se quiseres,
voltar ao teu mundo dos sonhos,
que desde sempre me acolheu
Escondida no inconsciente
de volta às sombras estreitas
dos mais ferozes desejos.
Sonha comigo, se assim queres.
Porém, não te enganes querido:
Eu sou o destino teu.

Bíndi 




*Imagem: Kaya Scodelario - Blue Eyes










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