quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Um tempo no tempo...Férias, Até breve!




Você ainda lembra de quando era criança?
Tão simples era a vida
Ficar olhando as formiguinhas carregarem suas folhas
O medo do escuro em seu quarto
A certeza inconsciente de que você era especial
Os amiguinhos invisíveis que brincavam com você
O gosto de cada pãozinho com manteiga
A  alegria no sorriso, ao ganhar um brinquedinho

Como era gostoso cada amanhecer
O sol, a brisa, o barulho da chuva
Aquele cãozinho que brincava com você
Seu primeiro dia de ir para a escola
A vida fluía como um orvalho
A resignação com o que tínhamos, longe da ganância que nos ensinaram
O dedinho cortado sarado com o curativo abençoado

...mas crescemos, nos fizeram esquecer como tudo é tão simples, ao mesmo tempo tão belo, exaltaram os perigos, surgiram bandidos perigosos, nos vimos num mundo monstruoso e letal...

Então, só por  hoje, vamos  comemorar a saudade dos bons e dos nem tão bons momentos que tivemos, vamos comemorar o simples fato de existirmos e merecermos esse ar, os alimentos dados pela natureza, por nossa inteligência, por nossos sentimentos, por nossas buscas...

Olhemos ao nosso redor: há tantos que não tiveram a oportunidade de serem crianças, ou mesmo aqueles que não guardam doces recordações da infância...vamos celebrar o hoje...vamos vibrar no presente, na esperança de atrair paz no amanhã?!...vamos plantar uma semente de simplicidade no fato de existir, como fazíamos na infância...

Trouxemos conosco as rosas brancas, vermelhas, amarelas...são rosas que nasceram com os espinhos que por fim as protegem dos perigos que sua beleza pode atrair...aprendamos pelo amor, então...não esperemos a lição da aprendizagem pela dor, para então nosso sorriso se transfigurar no daquelas crianças que fomos um dia!

Acordamos sorrindo, depois de nos ferir com os espinhos da vida, aprendendo que um "bom dia, um abraço, um beijo"...já é um milagre do universo!

O tempo para nós dois, não existe, os anos não passam, pois não os temos...apenas vivemos o nosso hoje, que é o nosso tempo eterno!

Até breve, pois como duas crianças sapecas...vamos agora descansar em nosso bercinho de paz, mas sem jamais nos distanciarmos dos nossos amigos invisíveis, porém, reais para nós!

Ghost & Bindi

Música: Semente do amanhã(Gonzaguinha)

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Sombras




Sombras 



Toda a sua vida havia sido marcada pela sede: de conhecimento, de respostas, de conhecer-se para apreender o mundo complexo de fora, mas sobretudo por um profundo anelo por ser melhor do que era.

Ao seu redor ele via a saciedade dos sentidos, da inteligência, via partidas e retornos, percebia os trens chegando, para os outros, lotados de conhecidos que traziam abraços e fotos de lugares distantes; mas trem algum chegou para ele. Via-se pequeno e ordinário aguardando na estação pelo vagão que traria finalmente a experiência suprema, a aurora mística, a angelitude em vida...

A mochila nas costas, por mais leve que quisesse levar, pesava sempre. Era uma longa jornada tentando desfazer-se de falhas e defeitos, arredondando-se a cada baque da vida, como um seixo que rola agitado por um rio frenético e ao bater no fundo e nas margens perde algumas partículas por vez. Mas era tão pouco para quem almejava tanto...Desejava um futuro não muito distante distribuindo uma luz sem lacunas de sombra, uma bondade sem mácula, uma fraternidade sem cobranças.

Mas entre todas as falhas que ainda tinha por burilar, uma lhe era a mais dolorida: a falta de uma profunda empatia pelo semelhante, essa privação de sentir vontade de chorar quando outro chora, de rir ao perceber o riso, de cantar junto com quem canta – o pior dos defeitos, a suprema carência, em sua forma de ver, e que por mais que se esforçasse não lograva sentir. Queria a perfeição agora, como a criança que sabe do presente escondido há meses no armário não quer esperar pelo natal. Sentia-se pequeno demais enquanto não fosse extremamente grande, sujo demais enquanto não estivesse imaculadamente limpo. Existir como um simples ser humano cheio de falhas doía-lhe.

Foi numa de suas andanças entre as ruelas da parte marginalizada da cidade, tentando sentir a compaixão pungente que sempre buscara, que viu a moça baleada sobre uma poça de sangue. Ao seu lado, pessoas chorosas e desesperadas, e um rapaz que inclinado sobre ela tentava desesperadamente lhe prestar os primeiros socorros e impedir que a vida escoasse com cada uma das gotas que avermelhavam o chão batido. “Preciso de ajuda”, ele falou olhando ao redor em desespero; “Ela tem uma artéria rompida, necessito que alguém faça compressas sobre a hemorragia enquanto eu a reanimo ou ela morrerá...” Com um esgar de horror, as compungidas pessoas que o circundavam instintivamente se afastaram...Não conseguiam cogitar em tocar aquelas carnes dilaceradas e pulsantes, entreolhando-se chocados.

Mas ele agachou-se, pegou a toalha que o socorrista apontava e pressionou o local sanguinolento sem problemas. Assim, ao lado dela, percorreu o caminho todo até o hospital. Quando a maca desapareceu no longo corredor batido pelas cruas luzes brancas, virou as costas para ir, voltando sobre os próprios passos. Quase não notou o rapaz a quem ajudara, que ao passar por ele, disse baixinho: “se não fosse sua serenidade e presença de espírito, talvez minha irmã estivesse morta...Obrigado.”

Bíndi

Imagem: earthporm.com

Música: Sabrina Carpenter - Shadows



domingo, 5 de novembro de 2017

Desculpe não ter dito adeus



Moça, tua estrada é longa
Nem sempre pisarás em flores
Muitos espinhos te farão chorar
Nesses momentos estarás sozinha

Ainda ontem eu podia cheirar teu perfume
Hoje só posso soprar ao teu ouvido
Mesmo sem ser escutado
Me restam ainda as dores da partida inesperada

Das pessoas, espere compreensão, mas nem sempre
Cada um carrega o próprio céu
Teu céu  é o teu coração
É nele que ficarei agora, por isso não me despedi!

Talvez amanhã eu seja conduzido para mais longe de ti
Entretanto, esses laços não se quebram...mesmo nos confins do universo!

O fato é...eu lamento ter feito você chorar
Saiba que estou bem aqui...não chore  por minha ausência
Lembre dos risos que tivemos, das nossas brincadeiras
O tempo todo eu observava teu jeito de ser, aprendi muito contigo

Obrigado, por ter cuidado de mim 
Obrigado, por ter me recolhido de um destino cruel
Obrigado, por todas as vezes que de tuas mãos recebi o alimento
Obrigado, por nunca teres me batido pelas sujeiras que fiz em tua casa

Agora terei um novo lar, mas nunca te esquecerei
Saiba que continuarei a observar-te, em silêncio...como sempre fiz

Desde que me acolheste em teu colo maternal, observei tua vida
Digo-te com a sinceridade que sempre me expressei...está tudo em tuas mãos.

Depende de ti, chorar sem sofrer em demasia
Dolorir o coração,  porém...seguir
Também terei que seguir, hoje graças à luz que me mostraste...em paz!

Até sempre!

Ghost

Em honra a um serzinho de luz em forma de cão que esteve nesse mundo até 13.10.2017


Música: Nicola Di Bari - Il Mondo Gira


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Querer


Por tanto te querer, acho que me perdi
tanto, tanto te querer e ter que te deixar partir...
​Precisar-te com toda a minha minha carne
​farejar como louca teu amor-sedução
e minha alma​,​ ​impassível, dizer-me que não...
​O​ querer é tão sério...o desejo tem olhos duros
Implacável avança, fareja, te escolhe
É uma fera selvagem, instintiva, tirana
Não consigo contê-lo, amor, eu te juro
Já agora ele sonha atirar-te na cama
Em sorver-te, beber-te, amar-te aos pedaços
Em tratar-te qual coisa que a ele pertence
E depois te esquecer, exaurido, em meus braços
​Para então minha alma te acolher com ternura
pois já então saciado o desejo pungente
Tu serás muito amado em entrega tão pura...
Dizem-me​ as​ vozes d​e sagradas doutrinas
Que o apego é um erro, a paixão é loucura
Ilusão de luxúria, despenhadeiro de mágoas
Mas humana que sou, abandono-me inteira
Nesse ensaio de vida sobre a cama trigueira
​desnudando-me, Amor, pra banhar-me em suas águas.


Bíndi

Imagem: Instagram Ginkas Arts
Música: Francesca Gagnon "Querer"


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O Santuário




Ela permanecia sempre em silêncio, mas sua postura denotava emoções guardadas, contidas...
Não apenas um silêncio ela trazia em seu semblante angelical, mas um vazio no coração se configurava, através de seu olhar distante

A leveza de seu andar, salientava uma elevada alma, como uma criança que busca o lar...embora num corpo de uma linda mulher, transfigurava nas feições, o aspecto de  um anjo, ela poderia se chamar Bíndi, uma menina, uma mulher, um ser de luz!

Todas as vezes, em suas costumeiras visitas ao Santuário, ela se dirigia de forma autômata para a Cripta: ali ela orava baixinho, às vezes lhe corriam lágrimas na face...
Quem se aproximasse dela, poderia ouvir a súplica em oração, pedindo por seu amor..."Pai, devolva-me ele, mesmo que na eternidade, mesmo que em mil anos, devolva-me...aceitarei a sua partida dessa vida, mas imploro a vós pelo melhor caminho a quem amo."

Assim se repetiam os dias, as tardes, o vento nas árvores, o canto dos sabiás, o silêncio, aquela linda dama sentada naquele banco, com o coração em oração constante.

Quem seria o ser que mereceria o amor desse anjo de tanta luz, com tanta capacidade de amor?!...um fantasma, um desconhecido, um silencioso, alguém que nunca estava ao seu lado para vê-la chorar sozinha, sem emitir sons, mas com o coração dilacerado e ansioso!

...

 ...era numa tarde de sexta-feira, no mesmo dia em que ela por ali andava só...mas alguém vinha ao seu lado, eles sorriam, como duas crianças no paraíso, havia Deus deixado seu amor na Terra, junto ao anjo que tanto o amava, estavam ali...juntos, pois ao chegarem no Santuário, se prostraram diante da cruz, de suas faces surgiam sorrisos e graças, as mãos entrelaçadas, ela lhe murmura..."eu prometi que lhe traria aqui em agradecimento!"

Ele a fixa significativamente nos olhos, ela pega em suas mãos, ambos se dirigem até a Cripta, ali ele olha para o Cristo, lhe dá um sorriso quase íntimo, pega da mão de sua amada, ajoelham-se e ali ficam em silêncio...em dado momento, ele deita a cabeça em seu ombro, ela o acaricia na face, recebem do invisível, nesse momento, as luzes que os abençoaram para ali estarem juntos...então saem lentamente...levitam, sentam-se no mesmo banco onde ela por muitas vezes ficava sozinha e em silêncio; conversavam, mas em seus olhares  já tudo estava dito...não precisavam das palavras.
Para o observador ficou o entendimento de que os laços do amor nos ligam, mesmo sem a presença dos corpos...

Ecoou-me aos ouvidos apenas uma conversação, que jamais esquecerei:
Ghost: Deus enviou você, para que eu não esqueça de como é o céu!
Bindi: Meu céu é onde está você!

Assim  se foram...abençoados...talvez eu os veja um dia...na eternidade!

Ghost
       Vangelis - Prelude

domingo, 17 de setembro de 2017

As Crias da Alma


Meu ego é um cãozinho que se distrai
com as pedras do caminho
A minha Alma é o seu mestre,
que anda adiante dele
e a quem ele segue sem saber.
Julgando-se só e independente,
alegre quando o caminho é fácil
gemendo e ganindo ao cair nas armadilhas
em desespero por pensar-se na solidão

Sorridente e cheia de compaixão,
minha Alma detém-se e vem socorrer este cãozinho...
Carrega-o no colo pra que se acalme
sussurra palavras de acalanto pra que se anime
e novamente coloca-o no Caminho
pois ele tem tanto a percorrer para encontrá-la...

Sorrio do cãozinho cheirando a leite e pão
criança da vida, que não sabe que já é ancião
de vidas e vidas além do Tempo
dormindo em sua caminha de trapos
e em sua inocência achando que tudo tem.

Mas é assim que tem de ser, assim será
pois o Caminho é longo e tem de ser trilhado
E assim acordo todos os dias, cãozinho inocente
sem saber que a Alma de um Deus aguarda em mim.

Bíndi



Imagem: Pinterest.com

Música: Havasi - The Road


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Éramos Um



Nas voragens de lembranças que elevam o olhar ao horizonte infinito
Déjà vu da mente insana que voa fora do padrão terrestre
Isolados e tidos como estranhos seres
Carregam um arquivo vivo no coração

O enlace mais denso em habitação temporal
Então o reencontro inesperado
Vedando as ilusões impostas por uma sociedade cruel e sonolenta
A união...o amparo, o amor...
As acusações e dedos em riste, julgados e condenados por víboras
Seguem em silêncio, guardando a inocência do mais puro amor
A solidão aliviada pelo carinho recíproco

Inexplicável sentimento que habita em dois corpos
Recordações de lugares desconhecidos, intraduzíveis e distantes
A mente voa por espaços sem tempo, sem dualidades, em busca só de paz
Doando por automação o sorriso mais belo...

Situam o coração em estágios estranhos de consciência
Não vegetam, vivem buscando o eterno
Compreendem que não são os corpos
Plantam raízes e amor

Ao partir então...se unem duma forma ainda não compreendida pela ciência do homem
Então falam, "almas uníssonas"
Voam por espaços desconhecidos
Suas consciências se fundem numa só

Plantam o amor em elos transcendentes por onde passam
Longe das teorias e dos labirintos das razões humanas, apenas seguem...em silêncio

Ao longe se percebe apenas uma luz cruzando o cosmos...
Partes duma alma que retornam ao seu estado original...se fazem novamente o um
Rumam por infinitos, sem lugares tangíveis, pois sua realidade se torna o tudo e absoluto.

Nos deixam sempre a mesma mensagem contida na simplicidade de suas palavras...
Gentileza, educação, humildade, silêncio, servidão...simples assim.

Ghost


Música: Natasha st Pier - Je te souhaite

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

No dia em que você perdeu o seu sorriso





No dia em que você perdeu o seu sorriso
meu mundo escureceu, emudeci em dissabor
flutuaram em minha alma sentimentos imprecisos
sem atinar no que fazer pra amenizar a sua dor
No dia em que você perdeu o seu sorriso
meu anjo da guarda segurou a minha mão
pois mais em mim do que em ti doía o desalento
de perceber que a alegria assim termina de roldão
Bem pobres são os propósitos humanos
débeis planos, frouxas intenções
que se despedaçam ao menor sopro da fatalidade
Pois nem meu amor mais desvelado devolveu ao teu rosto a claridade
nem minha prece fervorosa desanuviou tuas feições
Mas como amar é estar junto, em todas as situações unidos
com amor e humildade ao Senhor peço
que me inspire a ser teu motivo de sorrir
ser assim tua alegria é meu encanto, é o paraíso
é poesia, inspiração pra todo o bem que espero ainda há de vir.

Bíndi


Imagem: pinterest.com




sexta-feira, 21 de julho de 2017

Automação Fraterna




Terra, abençoado lar-escola de bençãos e aprendizado

Ao ver-te tão longe de mim, vejo como és linda

Tantas dores e desatinos meus suportaste, Mãe Querida

Hoje te vejo anjo

Que saudade dos teus lugares, de tuas canções que falavam de amor
Estive em outras paragens tão belas também, mas de ti guardo eterna lembrança
De mim suportaste o despertar de dúvidas e silêncios
Meus gritos sequiosos ouvias sem reclamar

Quantas vezes foste meu lenço e suportaste minhas iras
Reclamava de ti um cárcere, mas me acolhias de minha própria ignorância
O Sol te ilumina agora, a noite te abençoa o repouso
Mãe Querida, lugar de benção e dor, de aprendizado, de despertar

Um raio te rompe, rasgando a escuridão e o silêncio...os canhões não cessam
E você tão formosa, calada, sem o menor grito
Teus lugares tão belos e completos ao habitat necessário
Teu colo abençoado que guarda a paciência do Amor

E o tempo volta em meu coração
Aqui estou Mãe, visitando-te saudoso
Aprendendo de ti a lição...
Esperar...esperar.


Ghost



segunda-feira, 3 de julho de 2017

Entre Rendas e Martelos


Que nos deixem ser mulheres como as flores são flores, como o céu é o céu, como o mar é a imensidão do mar...sem exigir-nos mais que isso, ser o que nascemos pra ser, o que nascemos sendo, o que somos, pois já é difícil o bastante sermos humanas pra tentarmos ser sobre-humanas...


Não nos cobrem divindade ou castidade angelical, nem talentos extraordinários...não seremos mães em tempo integral, nem amantes de fogo interminavelmente disponível, nem tampouco cozinheiras, faxineiras, professoras e enfermeiras de eterno plantão, pois o tempo e as circunstâncias influem sobre nós como sobre qualquer criatura, e temos fases como a lua, bem dizia a poeta Cecília, que era mulher como nós...


A roseira cresce, e um dia dará suas rosas, e é o que se espera dela, por ser roseira...o cãozinho nasce, cresce e um dia latirá, e é o que dele se espera, por ser cão...o homem nasce e se torna homem, e é esse seu normal, por ser homem: porque somente a mulher teria a sina de nascer mulher e tornar-se heroína, porque transformar-se em divina a que nasceu pra ser humana...


A vida tem muitas ciladas, e uma delas é o morrer a flor em botão, regada por água demais; o alimento cru e intragável, a que não foi dado o tempo do agir do fogo; o carro engasgado a que se quis fazer pegar à força, o ser que murchou no calor excessivo das expectativas irreais...

Seja irmã, filha, esposa ou mãe, antes de tudo é mulher, e antes ainda, criatura humana; e sua decantada beleza não pode estar em formas arredondadas e suaves, pois há as que não as tem assim...nem em perspicácia e extraordinária intuição, pois há as que tem pouca, ou nenhuma...em perfeitos rostos angelicais, pois tantas nisto nasceram em desvantagem; em habilidades multitarefas, porque existirão sempre muitas que nem ao menos possuem mobilidade...os critérios de beleza para julgar uma mulher estarão sempre aquém do que ela merece, pois tal é o mundo, e o mundo foi, até pouco tempo, fabricado por homens em todas as suas nuances...

Mas talvez existirá, pela persistência feminina, um momento no tempo e um espaço no mundo em que ela será o que puder, o que quiser, o que nasceu pra ser, o que lutou para se transformar, mas assim, natural e espontaneamente, sem empurrões nem trancos, sem pressões nem exageros, sem precisar caber numa forma preexistente antes de seu nascimento, ou se esgueirar para dentro de um estereótipo que a deixará galante mas infeliz...e nesse dia, o mundo exalará um aroma raro, o verdadeiro, o envolvente, o concreto, o nem sempre oloroso como rosas, mas o humanamente encantador, perfume de mulher...


Bíndi





sexta-feira, 16 de junho de 2017

Medo de Amar



Algo havia acontecido dentro de mim, após tanto ter sofrido,  pedindo a Deus um amor verdadeiro
Notava você em meio duma multidão, era só você
Dissimulava a tentação de ficar lhe olhando
Fazia questão de ser notado por você, sem que soubesses disso

Mas foi no inesperado que nossos olhos se cruzaram
Tsunamis, furacões,terremotos, colisão de galáxias
Ah esse amor...tão lindo e gigante
Tão simples, natural e inexplicável

E na magia do momento em que nos olhamos, sorrimos
Eu não queria deixar de olhar pra você...nunca mais
Mas o medo da rejeição novamente, me fazia recuar
Um turbilhão de receios, terrível sensação de perder o sonho

Novamente o inesperado nos ajudou
Um tropeção, na hora errada?!
Foi como se meus braços tivessem vontade própria
O abraço protetor...olhos nos olhos, a respiração, o calor de teu corpo!

Fim do medo

Ghost



Música: Ruser - You Know my dreams

Seis meses depois...


Eu tinha medo de amar tão rápido, mas a carência, a solidão, teu olhar...
Assim me deixei ser consolado por você, sem notar que curava uma dor, mas desenvolvia uma dependência de você!

Minhas lágrimas foram secando, meu coração você foi curando...
Totalmente carente, não percebia que para você era apenas um jogo de conquista.

Aos poucos, nossas diferenças cresciam...já não havia mais o colo, quanto mais eu me mostrava, mais você cobrava uma perfeição em mim, que lhe fizesse feliz. Fui me tornando aos poucos frustrado, querendo rever a mulher pela qual havia me apaixonado, a pessoa que havia me tirado da antiga tristeza...

Assim se concretizava uma dor intensa, pois nada em mim lhe agradava mais,  me esforcei em querer ser o melhor pra você...quanto mais eu tentava, mais você se afastava, mais limites impunha...

Hoje percebi que não há mais nada entre nós, exceto o que ainda sinto por você, como uma areia movediça...quanto mais tento sair, mais preso fico nesse sentimento...

O mundo é cruel, dizer "te amo" é fácil...amar é tão sublime que poucos conseguem verdadeiramente!

Você nunca me amou...

Me deixando apenas esse sentimento de ter medo de amar novamente!


Ghost



Música: Mick Fleetwood - You Weren't in Love

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Deitado no colo de Deus




“ A vida é a infância da nossa imortalidade.”

Goethe

Desci das costas a mochila pesada e na calçada sentei
Doloridos cada um dos meus ossos, fatigada minha alma 
Eu só queria descansar de todos os meus pensamentos
Desatrelar a consciência como a um cavalo 
Que há muito carrega o peso de sua carroça
E correr nos campos tranquilos dos que existem sem dar por isso.
Preocupações com o amanhã ocupam-me hoje
Remorsos das culpas passadas são trevosas nuvens que encobriram o meu sol
Se não os meus problemas, problemas alheios sempre me perturbam
Parece-me às vezes que a existência é um oceano 
Sacudido por ondas eternas e sem descanso
No meu limite, deitei-me ao solo e meus pensamentos fugiram feito passarinhos
E pousaram num fio próximo, enfileirados a me fitar
Não olhei pra eles...deixei-me apenas sentir a vibração da terra até sentir-me leve
E me percebi então deitado no colo de Deus
Aninhado e protegido, aquecido e abraçado
Nenhum perigo...nenhum medo...nenhum motivo para temer absolutamente nada, 
pois eu não tinha absolutamente nada a perder
O que me poderia acontecer de pior senão a morte 
Sendo que a morte é das cadeias da carne a suprema libertação?
Que mal me farão então, os outros? Que poder sobre mim terão?
Que poder eu lhes dou, para que amedrontado assim sempre me sinta?
Se sou eu o mestre de meu próprio coração, vou ensiná-lo a bondade sensata 
dos que agem sem esperar retorno e glórias
Se sou eu o guia de minha razão, vou educá-la a não temer o que de fora vier 
Pois percebi que o que mais me faz sofrer vem de minhas próprias elucubrações
No colo de Deus coloquei o peso do meu corpo cansado
No colo de Deus cantei uma canção de ninar pra minh'alma
No colo de Deus, descansei.

Bíndi

imagem: Google

terça-feira, 9 de maio de 2017

Hoje vejo-te assim...



Hoje vejo-te assim...



Uma esperança de poder de novo te encontrar

Um pensamento de paz

Um abraço que afaga minha saudade
Uma canção de amor

Uma felicidade sublime que na Terra encontrei
Um olhar para o eterno

Um momento que acalenta a solidão, no silêncio de meu coração
Uma brisa ao anoitecer

Uma rua deserta revestida de flores
Um amanhecer tão calmo

Uma lição de vida e luta, vencendo as lágrimas da desesperança
Um exemplo de doçura

Um beijo silencioso
Uma saudade que me ensinou a direção de Deus

Um desespero contido, que trouxe a fé dos dias meus
Uma paz ensinada por vc

Uma alegria de sentir teu amor vivo em mim
Um toque no coração

Um sentimento da alma
Uma lágrima num sonho feliz, em que te reencontro tão bela

Hoje vejo-te assim...
Não um corpo que jazz, mas uma alma que amo


Uma vida para trilhar, seguir e amar, servir e perdoar, errando e orando
Um coração para lapidar, para no céu merecer te encontrar. 

Ghost


segunda-feira, 24 de abril de 2017

A Flauta de Silêncio


O bem no universo se manifesta em silêncio
O sol, o ar, as plantas, os animais... aquele jacarandá, em toda a sua majestade, jamais deixou de ser silêncio.
Os astros em silêncio habitam o espaço, e a lua vela meu sono sem reivindicar qualquer retorno. 
As flores que plantei e vingaram em meu jardim, alegres floresceram em cores encantadas 
E todos os dias eu as agradeço por terem escolhido florir.
Mas se eu pisar sobre suas pétalas, ainda assim me darão perfume: 
pois a vingança da flor é encher de perfume a quem as machucou
Desejo aprender das flores, do ar, do sol, e de toda a criação de Deus a essência do humildemente servir
O desejo de notoriedade encobre o verdadeiro sentido do ser
Até mesmo o desejo de ser amado, que tão natural nos parece, 
pode nos levar ao poço sem fundo da carência, do des-amor próprio, da vaidade, do ciúme e da possessividade
Por já ser digna por ser quem sou, filha de meu Pai e irmã do universo, não necessito 
da aprovação nem das glórias de quem quer que seja...
E as críticas que chegarem, venham como lembrança de que sou ainda falível
E não como motivo de melindres a um ego insaciável.
Sem adjetivos ou advérbios, substantivos e pronomes
Simplesmente, Sou.
Que eu seja assim, humilde como as ervas que me dão o chá, e faça o bem com tanta naturalidade, 
que não mais o encare como virtude, mas como parte inerente do meu ser
Que todo o bem que eu fizer, se quede em silêncio tendo apenas o Pai por testemunha.

Bíndi

Imagem: nomaruta.club

domingo, 9 de abril de 2017

Portal de Luz



Dezoito horas...a escuridão, os lamentos, a chuva constante, o lamaçal
Tantas almas em estado de ignorância bestial
Outras em passagem necessária, lavando a roupa suja
Algumas entendem que é só um momento do ser eterno

Abre-se o portal...lá vem os missionários da luz
Abrindo as portas para os que desejam a paz
Trazendo amparo para os que ainda não suportam a claridade
Energizando um ambiente de quedas em erros, inconsciência e penúria

Assombrosas faces humanas em lágrimas, consciências em fragmentos
Seres desnudos de qualquer lucidez
Enquanto outros procuram os mestres, que lhes amparam de braços abertos
Olhares perdidos, olhos em cavernas na escuridão, gemidos audíveis ao longe

Pedidos de socorro, fugas da energia que traz a luz para as sombras

As equipes trabalham intensamente, novatos e seus mentores

Entrementes, alguém rompe o auxílio fraterno aos gritos...
-"Hipócritas, vivem no bem bom e nos abandonam aqui, cadê o tal Deus que vocês falam?! porque ele não se apresenta e nos salva?"

Um instante de silêncio se faz, quando emerge dentre a multidão um senhor de cabelos brancos, expressão serena e fala branda...
-"Amigo, o Deus que esperas te chama, ele está aqui te dando morada justa, tal qual o  primitivo estado de consciência em que impuseste a ti mesmo. Assassinaste mais de uma dezena de irmãos indefesos, diante de armas de fogo, que sem piedade alguma usavas para exterminá-los da vida densa. Esse Deus te forneceu um solo e um abrigo, uma vida e inteligência para a tua correção, ao passo que agora te encontras a buscar em ti mesmo, razões para acusá-lo, sob o manto do sofrimento que impuseste a ti mesmo. Se quiseres realmente ver a grandeza da criação, acompanhe-nos, siga-nos então..."

Diante da meditação silenciosa da pequena multidão, alguns seguiram adiante, enquanto outros revendo-se dentro da própria consciência, refletiam-na como um espelho de si mesmo, escondiam-se diante da luz que se fazia presente.

A equipe parte, levando consigo os passageiros para a luz, deixando os futuros anjos a limparem-se da própria inconsciência, para o portal de amanhã!

Ghost

Imagem: Pinterest

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