“ A vida é a infância da nossa imortalidade.”
Goethe
Desci das costas a mochila pesada e na calçada sentei
Doloridos cada um dos meus ossos, fatigada minha alma
Eu só queria descansar de todos os meus pensamentos
Desatrelar a consciência como a um cavalo
Que há muito carrega o peso de sua carroça
E correr nos campos tranquilos dos que existem sem dar por isso.
Preocupações com o amanhã ocupam-me hoje
Remorsos das culpas passadas são trevosas nuvens que encobriram o meu sol
Se não os meus problemas, problemas alheios sempre me perturbam
Parece-me às vezes que a existência é um oceano
Sacudido por ondas eternas e sem descanso
No meu limite, deitei-me ao solo e meus pensamentos fugiram feito passarinhos
E pousaram num fio próximo, enfileirados a me fitar
Não olhei pra eles...deixei-me apenas sentir a vibração da terra até sentir-me leve
E me percebi então deitado no colo de Deus
Aninhado e protegido, aquecido e abraçado
Nenhum perigo...nenhum medo...nenhum motivo para temer absolutamente nada,
pois eu não tinha absolutamente nada a perder
O que me poderia acontecer de pior senão a morte
Sendo que a morte é das cadeias da carne a suprema libertação?
Que mal me farão então, os outros? Que poder sobre mim terão?
Que poder eu lhes dou, para que amedrontado assim sempre me sinta?
Se sou eu o mestre de meu próprio coração, vou ensiná-lo a bondade sensata
dos que agem sem esperar retorno e glórias
Se sou eu o guia de minha razão, vou educá-la a não temer o que de fora vier
Pois percebi que o que mais me faz sofrer vem de minhas próprias elucubrações
No colo de Deus coloquei o peso do meu corpo cansado
No colo de Deus cantei uma canção de ninar pra minh'alma
No colo de Deus, descansei.
Bíndi