O calendário virou, mas não soterrou nosso passado
e o ano que se foi deixou retalhos ácidos
Mascando o tempo, recolhi pedaços
e uma colcha costurei entre meus braços.
Juntei o retalho da indiferença com o da solidariedade
na tentativa de confeccionar obra mais bela...
E de generosidade e egoísmos consegui porções enormes
com que fui cerzindo devagar, olhando a vida da janela.
Houve descuido, desgovernos, maus exemplos a fusel,
que costurei unidos com o suor de médicos e enfermeiras.
E neste entretecer apequenou-se a linha de meu carretel
pois para tais atos, tão heróicos, não sou bastante boa bordadeira.
E fui juntando, tecendo, costurando, a refletir...
A colcha ainda não aprontei, porque bem sei...muito ainda há de vir...!
Mas por pior que sejam os acontecimentos, não os apago da memória
Pois servirão de baliza para que me desvie de caminhos rústicos.
Porém, jamais deixemos de crer e de nos esforçar pela vitória:
Aprendi que a esperança é a teimosia dos lúcidos.
Bíndi