Somos um casal que se ama há muitas vidas, se reencontrou nesta, e vai se amar eternamente... Mas se você não acredita em alma, não crê em muitas vidas, nem aceita a idéia de eternidade, ainda assim acredite no amor: somos a prova de que ele existe, e existirá enquanto um coração humano bater sobre a face deste mundo...pois o amor é, definitivamente, o sal da terra. Bíndi e Ghost
Bondoso silêncio...
Silêncio cálido
Que nos aconchega com cuidado
E nos põe pra dormir
Te ouço na planta que brota
na boca que cala a palavra rude
na pausa do vento norte...
Serena rotina de horas amenas
o teu valor percebi
Após perder-te num susto
...saudades que tenho de ti...!
Agora chove.
E a chuva é bálsamo sobre as feridas
abertas na terra pela estiagem
nos sulcos secos, ardentes, sedentos
tendo a poeira por maquiagem
a vida brotará, inteira e aguerrida
A grandiosidade de Deus é sublime
mas sua humildade é tocante
cada pequenino dom da vida me redime
cada miúda esperança me leva para diante.
Quase posso vê-Lo parado ao pé de minha porta
A me dizer calmamente - tens tempo para aprender, filha
a dar valor ao que importa.
Bíndi
Crédito da imagem: goodfon.ru
Vim sorrir contigo
Pois de chorar estamos fartos
E sozinhos em nossos quartos
Fomos isolados da alegria
Vim abrir janelas
Porque as portas se fecharam
E rarefeito fez-se o ar
Se o fôlego nos tiraram
Chegado é o tempo de respirar
Vim abrir meus braços
E te guardar no peito em harmonia
Anjo meu, estamos tão carentes de abraços
Famintos de silêncio e calma
Tão cinza está lá fora
Pega agora tuas tintas
Vamos colorir almas
Bíndi
Imagem: coopermiti.com.br
******P.S.: Era a vez de Ghost fazer uma postagem; mas como ele está enfronhado em projetos de trabalho, ocuparei interinamente seus espaços.******
Hoje a vida te mostra a sua face mais obscura
Amanhã te olharás no espelho e verás o rosto da vitória
Hoje teu arado sulca a terra seca e dura
Amanhã a semente germinada será coroa em tua trajetória
Hoje vergas teus ombros e te corta o vento do infortúnio
Amanhã, com a cabeça levantada, olharás o céu com esperança
Hoje tens a impressão de que nada vale a pena
Amanhã o sopro da tristeza fará parte da lembrança
Hoje na forja das provações teu coração e mente se incendeiam
Amanhã sentirás enfim a serenidade e júbilo
As trevas te perturbam, te cercam, te cerceiam
Mas mantenha-te em paz pois, no final de tudo,
És o teu último e único refúgio.
Bíndi
Apuros de Prestimosa
Biografia de uma ficção
Capítulo Um - e, talvez, único.
Chamo-me Prestimosa, de pai e mãe descendente de heroicas raças que pelo Brasil aportaram. Conto-vos minha história sabendo-me desde já sujeita a vexames e melindres - pois as opiniões são diversas e nem sempre serei recebida com aplausos. Previno-me então para alguns muxoxos desdenhosos, interjeições jocosas, risos abafados de escárnio; mas sei que em sua maioria, meus leitores talvez, até, reconheçam-se em alguma de minhas desgramadas patranhas.
Pois vou contar de como conheci meu delegado, lá no querido interior do Brasil, numa cidadezinha onde o vento faz a curva e o judas não apenas perdeu as botas como furou as meias nos pedregulhos dos caminhos sem pavimento. Cresci ouvindo o grito dos carcarás e o pio das corujas, numa casinha branca cercada de pés de araçá, carambola e ingá, e onde as laranjeiras em flor atraíam abelhas e pares enamorados que vinham suspirar ao pé do muro, onde escondiam bilhetinhos de amor.
Certo dia, tinha eu meus quatorze anos, e um infausto acontecimento quebrou a serena monotonia do lugar. Fomos acordados pelos gritos de meu pai, que ao amanhecer costumava, amorosa e diligentemente, alimentar suas galinhas de estimação. Pois naquela fatídica manhã chegou ele ao galinheiro e constatou que estava vazio como o céu dos católicos: suas amadas Ponciana,Tibúrcia, Carminosa,Ventoinha, Izidora e todas as demais estimadas penosas haviam desaparecido. Num correrio do demo, vasculhou-se cada canto e nada encontramos. Convocou-se o delegado.
Podem os ilustres citadinos, acostumados com uma rotina de bárbaros crimes pipocando todos os dias, estranhar o fato de requerer-se a presença de um delegado para um prosaico desaparecimento galináceo: mas é preciso que se esclareça que, naquele tempo e naquela cidade, crimes eram quase inexistentes, e a última vez de que tivemos notícia de um, foi quando os moleques da escolinha, desejosos de uma pescaria ao invés das aulas de moral e cívica, colocaram areia no tanque de combustível do velho fusca da professora.
Pois o delegado veio diligenciar; era ele novo na cidade, chegado há poucos dias, e desejoso de estrear em grande estilo resolvendo uma charada criminosa, apressou-se em averiguar, de bloquinho em punho, o álibi de cada morador das vizinhanças. Não pude deixar de notar que era ele bem apessoado e elegante de estampa e de gestos, e muito me entristeci quando fui posta para fora da sala onde ele e meu pai conversavam. Fechou-se a porta, e fui cuidar da vida; mas curiosa como um filhote de mico, não pude me furtar de assuntar, e dando a volta na casa, acocorei-me sob a janela para ouvir a conversa. O que ouvi meu pai dizer abateu-me mais que as urtigas pinicando o derriére:
“Ela só tem quatorze anos, mas sabe lavar, passar e cozinhar, e como vossa excelência viu é bem apanhadinha. Por dois mil cruzeiros selamos o negócio e leva hoje mesmo, pois tenho mais quatro para encaminhar.”
Fiquei de queixo caído: nossa situação estava tão negra que meu pai me vendia, como produto de feira, em casamento? Corri dali antes de ouvir as risadas na sala, pois certamente era uma brincadeira entre adultos; mas passei o dia escondida entre moitas de dama-da-noite e a família toda esqueceu das galinhas para procurar-me. Quem veio a me encontrar foi ele, o pivô da situação, toda chorosa e já com saudades da família por me achar vendida e mal paga. Estendeu-me um branco lenço que encharquei de lágrimas, e ele beijou-me a mão dizendo que o coração não se compra nem se vende, mas se dá em bondade e devoção, amor e arrebatamento, e que o dele estava guardado para quem o soubesse espanar e tirar da prateleira onde se escondia esquecido do mundo. Pois digo que dali saí disposta a lustrar, lavar, polir e deixar fulgente e luzidio como sino de prata aquele coração que se mostrava sincero e arrebatado.
E sobre as galinhas...jamais soubemos o seu paradeiro. Consta que terminaram seus dias animando canjas na casa do Manoel das Cabras, o que nunca foi comprovado.
Bíndi
Crédito da imagem: Correio da Amazônia
O calendário virou, mas não soterrou nosso passado
e o ano que se foi deixou retalhos ácidos
Mascando o tempo, recolhi pedaços
e uma colcha costurei entre meus braços.
Juntei o retalho da indiferença com o da solidariedade
na tentativa de confeccionar obra mais bela...
E de generosidade e egoísmos consegui porções enormes
com que fui cerzindo devagar, olhando a vida da janela.
Houve descuido, desgovernos, maus exemplos a fusel,
que costurei unidos com o suor de médicos e enfermeiras.
E neste entretecer apequenou-se a linha de meu carretel
pois para tais atos, tão heróicos, não sou bastante boa bordadeira.
E fui juntando, tecendo, costurando, a refletir...
A colcha ainda não aprontei, porque bem sei...muito ainda há de vir...!
Mas por pior que sejam os acontecimentos, não os apago da memória
Pois servirão de baliza para que me desvie de caminhos rústicos.
Porém, jamais deixemos de crer e de nos esforçar pela vitória:
Aprendi que a esperança é a teimosia dos lúcidos.
Bíndi